Em abril de 2024, aconteceu o primeiro encontro do Projeto Sistemas Agroflorestais de Referência para combate a fome e mudanças climáticas promovido pela Embrapa, Fundo Vale e parceiros. O encontro foi realizado no município de Amarante-MA, no Território Indígena Araribóia, dos povos indígenas Guajajaras, e objetivou prospectar demandas e identificar os principais desafios de produção naquele terrítório. O intuito também foi conhecer as experiências locais em sistemas agropecuários e conservação florestal, considerando o conhecimento indígena tradicional. A partir destas interações e o conhecimento técnico-científico da Embrapa, o projeto visa à construção conjunta de sistemas produtivos de referência, com foco na produção de alimentos com qualidade nutricional e na conservação ambiental.

O evento reuniu representantes e técnicos da Embrapa, Instituto Tukàn, Comissão de coordenação de lideranças e caciques do território indígena Araribóia – Ccocalitia, representantes e indígenas da comunidade Tenetehar – Guajajaras, UAIMA – União dos agricultores Indígenas do Estado do Maranhão, grupo indígena dos Guardiões da Floresta, Funai, Secretaria Municipal de Agricultura de Amarante, Fundo Vale, Ministério dos Povos Indígenas e Governo Federal.

Cerca de 80 participantes, entre indígenas e técnicos, buscaram interagir e discutir alternativas para os sistemas produtivos no território indígena Araribóia. Buscou-se também incluir estratégias para sistemas agroflorestais com espécies frutíferas, como açaí, cacau, cupuaçu, banana, citros, abacate e espécies florestais ativas. E também alternativas em sistemas silvipastoris para pecuária e outros relacionados com a produção de hortaliças e plantas de lavoura, como milho, arroz, feijão e mandioca para fins de produção de alimentos de ciclo curto. Além das apresentações do projeto, o evento contou com trabalhos em grupos das comunidades, onde os participantes apresentaram os principais desafios e propostas.

Nos relatos foram citados desafios relacionados às questões de infraestrutura, estradas, disponibilidade e qualidade de sementes e mudas, preparo do solo, adubação, entre outras práticas agrícolas, e verificou-se também questões ambientais relacionadas à proteção de nascentes, matas ciliares, práticas de conservação de solo e água, possibilidades de sistemas de produção orgânicos e agroecológicos, restauração florestal, conservação e preservação da floresta.

Construção conjunta

O projeto Sistemas Agroflorestais de Referência para combate à fome e mudanças climáticas visa, justamente, auxiliar na alimentação direta das comunidades, neste caso específico, as indígenas, e na geração de renda e, ao mesmo tempo, contemplar aspectos ambientais. “A base do projeto é a construção conjunta dos sistemas para que possamos ter impactos positivos nos fatores sociais, econômicos e ambientais”, enfatiza Marcelo Francia Arco-Verde, chefe-geral da Embrapa Florestas (Colombo-PR) e coordenador do Projeto. Também participam na coordenação técnica Carlos Vitoriano Lopes e Vera Maria Gouveia pela Embrapa Cocais e Sílvio Brienza Júnior e Emiliano Santarosa pela Embrapa Florestas.

“O encontro inicial superou as expectativas, ao ir além das proposições técnicas de sistemas de referência que possam auxiliar as comunidades na produção de alimentos sustentáveis, pois auxiliou na reaproximação entre os diferentes grupos dentro do próprio território indígena, realizando a união das diferentes comunidades, lideranças e discussão de pontos comuns dentro do território, com representantes e caciques das comunidades”, destacou Arco-Verde.

Pontos importantes relacionados à gestão do território indígena também foram discutidos pelos grupos, abordando desafios, sistemas produtivos e aspectos ambientais para proteção da floresta, sendo, este último, fundamental para gestão e comunidades indígenas. Segundo Emiliano Santarosa, analista da Embrapa Florestas, “as comunidades indígenas apresentaram os principais desafios na produção de alimentos e também houve relatos de experiências de agricultores familiares da região. A partir desta troca de conhecimentos serão elaborados de maneira conjunta os sistemas Agroflorestais de Referência, que poderão auxiliar na diversificação da produção, assim como no estabelecimento de estratégias que contemplem a restauração florestal, conservação e preservação da floresta”.

Valorizar o conhecimento tradicional

O projeto visa valorizar o conhecimento tradicional indígena e ao mesmo tempo apresentar alternativas técnico-científicas ou soluções tecnológicas que possam auxiliar na produção de alimentos e no combate a fome das comunidades. “A fruticultura, os sistemas agroflorestais e sistemas silvipastoris podem auxiliar na produção sustentável de alimentos e na mitigação dos gases de efeito estufa, através do grande potencial de fixação de carbono destes sistemas. Além das boas práticas agropecuárias, visando à conservação de solo e água, as tecnologias e métodos para restauração florestal também podem ser alternativas”, afirma Santarosa.

Silvio Brienza, pesquisador da Embrapa Florestas, destaca que “a metodologia de elaboração destes sistemas a partir da troca de conhecimento com os indígenas e agricultores visa ajustar e indicar os melhores sistemas com base nas experiências locais, aumentando as chances da adoção. Assim como, propor sistemas produtivos e manejo mais ajustados ao perfil dos agricultores, indígenas e a realidade local. Neste caso, também existe o grande potencial das espécies nativas na composição dos sistemas agroflorestais e diferentes arranjos produtivos”.

“A cooperação técnica entre Embrapa e instituições indígenas no Maranhão é de extrema importância. Vamos trabalhar juntos para levar soluções tecnológicas que contribuam para resolução das comunidades a serem atendidas”, destaca Carlos Vitoriano, analista da Embrapa Cocais. De acordo com Liz Lacerda, analista de sustentabilidade da Fundo Vale, “nosso objetivo é apoiar esta iniciativa da Embrapa e parceiros e transformar esta parceria, de fato, em uma unidade demonstrativa de referência para outras unidades produtivas no Maranhão ou outras regiões no Brasil também”.

Segundo o cacique e liderança indígena da TI Araribóia, Silvio Santana da Silva, presidente do instituto Tukàn, “a reserva indígena precisa ter garantida a segurança alimentar e nutricional com preservação ambiental”. Fabiana Guajajara, do Território Araribóia, diretora executiva do Instituto Tukàn e pedagoga, ressaltou, nas oitivas que realizaram, os problemas enfrentados. “O nosso foco é conquistar soberania alimentar, por meio do fortalecimento da agricultura indígena. Mas temos de garantir também a preservação das nossas nascentes e da nossa terra, recursos naturais que geram alimento e vida”.

O Instituto Tukàn foi fundado em 2019 para atuar em defesa da Amazônia e da autonomia dos povos indígenas, buscando autonomia por meio da educação e da soberania alimentar, atuando na educação bilingue em Tupi e português. Por meio do Centro de Saberes Tukàn, apresenta projeto para ser ampliado e se tornar a primeira universidade Indígena do Brasil.

Outros encontros e reuniões técnicas estão previstas para a primeira fase do projeto, que serão realizadas em 2024. A partir desta construção conjunta do protocolo de sistemas agroflorestais de referência, posteriormente espera-se que estes sistemas possam ser validados e multiplicados nas comunidades, incluindo potencial para outras regiões, auxiliando povos indígenas, povos tradicionais e agricultores familiares para produção sustentável de alimentos, geração de renda e mitigações climáticas.

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