Li que a Dinamarca aprovou no dia 27 de junho de 2024 uma lei que cobra anualmente 300 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 240,00) por tonelada de Metano (CH4)  produzido por seu gado, bovino ou suíno. Depois de pensar em que tipo de aparelho verifica a quantidade de gases emitidos pelos pobres animais, fui pesquisar sobre o assunto. Biologicamente e antropologicamente o ser humano desenvolveu-se a partir do maior consumo de proteínas. Com uma dieta aperfeiçoada, especialmente de fontes animais ricas em nutrientes essenciais como aminoácidos, ferro e vitaminas do complexo B, foi fundamental para o desenvolvimento cognitivo e neurológico, especialmente em crianças em crescimento. Também foi crucial para o desenvolvimento de um cérebro maior e mais complexo em comparação com outros primatas. São essenciais para a construção e reparo de tecidos, produção de hormônios e enzimas, e funcionamento adequado do sistema imunológico. Uma dieta equilibrada em proteínas é crucial para a saúde e a sobrevivência. O acesso a fontes de proteínas de alta qualidade foi e é um fator determinante na saúde e na capacidade de trabalho das populações humanas, influenciando diretamente o desenvolvimento cultural e social. Será que os países não deveriam estimular o consumo de proteínas?

              A população global de ruminantes domésticos, que ultrapassa 3,5 bilhões de animais, desempenha um papel crucial na agricultura e na segurança alimentar. Esses ruminantes, principalmente bovinos, ovinos e caprinos, alimentam bilhões de pessoas ao redor do mundo. Estima-se que os produtos de origem animal, como carne e leite (derivados inclusos), contribuam significativamente para a ingestão de proteínas em muitas dietas globais. Segundo a FAO, os ruminantes fornecem cerca de 34% da proteína alimentar global e suportam os meios de subsistência de aproximadamente 1,3 bilhões de pessoas​ (World Bank)​​ (FAOHome)​.

              A quantidade de Metano (CH4) que um ruminante produz durante sua vida pode variar dependendo da espécie, da dieta e das condições de manejo. Aqui estão alguns dados gerais:

Bovinos: Um bovino típico pode emitir entre 70 e 120 kg de Metano (CH4) por ano. Supondo uma vida útil de aproximadamente 5 anos para um bovino de corte, a emissão total seria entre 350 e 600 kg de Metano​ (Our World in Data)​​ (Wikipedia)​.Ovinos: As ovelhas produzem menos Metano (CH4)  por ano em comparação aos bovinos. Em média, uma ovelha pode emitir cerca de 8 a 12 kg de Metano (CH4)  por ano. Durante uma vida útil de cerca de 6 anos, isso totaliza aproximadamente 48 a 72 kg de Metano​ (Our World in Data)​.

Caprinos: Os caprinos também produzem quantidades menores de Metano. Um caprino pode emitir entre 5 e 8 kg de Metano (CH4) por ano, o que se traduz em 25 a 40 kg de Metano (CH4)  ao longo de uma vida útil de cerca de 5 anos​.(Our World in Data)​

              Essas emissões são significativas, pois o Metano (CH4)  é um gás de efeito estufa com um impacto de aquecimento global muito maior do que o dióxido de carbono. Por isso, há um interesse crescente em reduzir as emissões de Metano (CH4)  na pecuária, através de melhorias na alimentação, manejo e genética dos animais.

Para efeito na tabela logo abaixo, consideraremos a população total do rebanho como 120kg por ano.

Aviação privada e comercial

              Os jatos particulares executivos variam bastante em termos de emissões de gases nocivos dependendo do tipo de aeronave, a distância voada e a eficiência do motor. Aqui estão alguns dados gerais:

Emissões de dióxido de carbono (CO2):

              Um jato particular de tamanho médio emite aproximadamente 2 toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) por hora de voo.

Em um voo de 4 horas, isso se traduz em cerca de 8 toneladas de Dióxido de Carbono (CO2).

Óxidos de nitrogênio (NOx):

Emitem entre 0,1 a 0,2 kg de NOx por hora de voo.

Monóxido de carbono (CO):

Emitem cerca de 0,05 a 0,1 kg de CO por hora de voo.

Hidrocarbonetos (HC):

Emitem cerca de 0,01 a 0,03 kg de HC por hora de voo.

Exemplo de Emissões em um Voo Típico

Para um jato particular médio voando por 4 horas:

Dióxido de Carbono (CO2): 8 toneladas

NOx: 0,4 a 0,8 kg

CO: 0,2 a 0,4 kg

HC: 0,04 a 0,12 kg

Comparação com Outros Modos de Transporte

              Essas emissões são significativamente maiores por passageiro comparadas a voos comerciais ou outros modos de transporte, como trens ou carros, devido à menor eficiência de ocupação (menos passageiros por voo).

Considerações

              Devido ao impacto ambiental, há um crescente interesse na aviação sustentável, incluindo o desenvolvimento de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF) e tecnologias de propulsão mais limpas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes atmosféricos.

              Até 2024, existem aproximadamente 23.000 jatos particulares em operação em todo o mundo (AeroTime) (Jet Finder). Esse número inclui diversos modelos e tamanhos, desde jatos menores e mais econômicos até aeronaves maiores e luxuosas usadas para viagens internacionais e de longa distância.

              Esses jatos particulares contribuem significativamente para as emissões de gases de efeito estufa, com jatos individuais frequentemente emitindo várias toneladas de dióxido de carbono e outros poluentes por voo, dependendo de fatores como a distância percorrida, o tamanho da aeronave e a eficiência do combustível.

COP28

              O Brasil teve a segunda maior comitiva desta reunião da COP, com 570 pessoas (Folha de S. Paulo, 9/11/2023). Considerando-se que foram em 3 grupos apenas,  de 180 ou 190 pessoas ao mesmo tempo, isto resultaria em 3 ou 4 aeronaves. Algumas estimativas sobre o impacto ambiental abaixo.

              As emissões de gases de efeito estufa de uma aeronave durante um voo dependem de vários fatores, incluindo o tipo de aeronave, a distância percorrida, a carga útil (passageiros e carga), as condições meteorológicas e a rota específica. No entanto, para dar uma ideia geral:

Boeing 777:

Emissões de Dióxido de Carbono (CO2) por passageiro por quilômetro podem variar, mas uma estimativa aproximada é de cerca de 0,08 kg de Dióxido de Carbono (CO2) por passageiro por quilômetro. Para um voo de São Paulo (GRU) para Dubai (DXB), que é aproximadamente 12.000 km (ida e volta), e considerando uma capacidade média de 400 passageiros, as emissões totais de Dióxido de Carbono (CO2) poderiam ser cerca de 38.400 kg (34 toneladas) de Dióxido de Carbono (CO2) e 0,8 kg por voo de ida e volta.

Airbus A380:

O Airbus A380 tem uma capacidade maior, então as emissões totais podem ser mais altas, mas por passageiro podem ser menores devido à maior capacidade de carga. Uma estimativa de emissões por passageiro e por quilômetro pode ser ligeiramente menor que a do Boeing 777, devido à maior eficiência operacional e de combustível do A380.

       É importante ressaltar que essas são estimativas aproximadas e as emissões reais podem variar com base em vários fatores operacionais específicos de cada voo. As companhias aéreas e organizações internacionais estão cada vez mais focadas em reduzir as emissões de carbono através de tecnologias mais eficientes e iniciativas de sustentabilidade. A média de emissão de CO₂ por hora de voo para uma aeronave comercial é aproximadamente  90 kg de CO₂ por quilômetro. Para um voo de 800 km/h, isso resulta em cerca de 72.000 kg (72 toneladas) de CO₂ por hora de voo. Para efeito de cálculo na tabela abaixo, consideraremos uma média mundial de 5 horas.

Este foi o exemplo de apenas um dos países que participaram da COP28. São 197 participantes das nações e mais uma comitiva representante da Comunidade Europeia. Todos foram de avião.

Também há a emissão de Óxido Nitroso (N2O), que apesar da baixa emissão e concentração na atmosfera, é mais danoso que o Metano (CH4) , podendo afetar a atmosfera até 298 vezes mais que o Dióxido de Carbono (CO2).  

Voltando aos ruminantes

              Ruminantes, como vacas, ovelhas, cabras e outros animais, emitem gases através da fermentação entérica, um processo digestivo natural que produz Metano (CH4)  como subproduto. O Metano (CH4)  é um gás de efeito estufa significativo. Aqui estão algumas estimativas gerais:

Emissões de Metano:

              Estima-se que os ruminantes contribuam com cerca de 15 milhões de toneladas de Metano (CH4) globalmente. Isso equivale a aproximadamente 2 a 3% das emissões totais de gases de efeito estufa causadas pelo homem.

Em termos de equivalência de Dióxido de Carbono (CO2), isso seria cerca de 4,2 bilhões de toneladas.

              Esses números podem variar dependendo das práticas agrícolas, tipos de alimentação dos animais, e outras variáveis. Medidas para reduzir as emissões de Metano (CH4) de ruminantes incluem melhorias na alimentação, gestão de resíduos, e pesquisa de suplementos alimentares que ajudem a reduzir a produção de Metano (CH4) durante a digestão.

              As emissões de Metano (CH4) provenientes das aeronaves são significativamente menores em comparação com as emissões de Dióxido de Carbono (CO2), que são o principal gás de efeito estufa emitido por aeronaves. O Metano (CH4) não é emitido diretamente pelas turbinas das aeronaves, mas as emissões indiretas podem ocorrer devido a vazamentos de gás natural durante o reabastecimento em terra ou operações de manutenção.

No entanto, para colocar em perspectiva:

              As emissões de Metano (CH4) das aeronaves são consideradas muito baixas em comparação com as emissões de Dióxido de Carbono (CO2). Estudos indicam que as emissões diretas de Metano (CH4) pelas aeronaves são mínimas em comparação com outras fontes de emissão.

              Portanto, enquanto as emissões de Dióxido de Carbono (CO2) são o foco principal quando se trata de impactos climáticos das operações de aviação, as emissões de Metano (CH4) são geralmente negligenciáveis em termos de contribuição para o aquecimento global.

Qual afeta mais o efeito estufa: Metano (CH4) ou Dióxido de Carbono (CO2)?

              O efeito estufa causado pelo Metano (CH4) (CH4) é mais potente em termos de aquecimento global do que o Dióxido de Carbono (CO2) (dióxido de carbono), mas sua concentração na atmosfera é muito menor. Aqui estão os principais pontos de comparação:

Potencial de Aquecimento Global (GWP):

              O GWP é uma medida que compara a capacidade de diferentes gases de reter calor na atmosfera, em relação ao Dióxido de Carbono (CO2), ao longo de um determinado período (geralmente 100 anos). O Metano (CH4) tem um GWP aproximadamente 28 a 36 vezes maior que o Dióxido de Carbono (CO2) ao longo de 100 anos, o que significa que, por unidade de massa, o Metano (CH4) aquece a atmosfera muito mais do que o Dióxido de Carbono (CO2). O mesmo com o óxido nitroso, apesar da baixa emissão, seu impacto é até 298 vezes maior que o Dióxido de Carbono (CO2). Veremos seu impacto na tabela mais adiante.

Concentração na Atmosfera:

              Apesar de seu maior potencial de aquecimento, o Metano (CH4) é muito menos abundante na atmosfera do que o Dióxido de Carbono (CO2). A concentração de Dióxido de Carbono (CO2) na atmosfera é medida em partes por milhão (ppm), atualmente em torno de 415 ppm. Em contraste, a concentração de Metano (CH4) é medida em partes por bilhão (ppb).

Contribuição para o Aquecimento Global:

              Devido à sua menor concentração, as emissões totais de Metano (CH4) contribuem significativamente menos para o aquecimento global em comparação com as emissões de Dióxido de Carbono (CO2). As principais fontes de Metano (CH4) incluem agricultura (especialmente a criação de ruminantes), exploração de combustíveis fósseis e gestão de resíduos.

              Em resumo, enquanto o Metano (CH4) tem um impacto maior por molécula, o Dióxido de Carbono (CO2) é responsável por uma maior parte do aquecimento global devido às suas emissões muito maiores e concentração mais alta na atmosfera. Ambos os gases são importantes focos de mitigação para reduzir as mudanças climáticas.

Tabela comparativa

Para fornecer uma visão geral comparativa entre o rebanho ruminante mundial, o número de voos mundiais, emissões de Metano (CH4) e Dióxido de Carbono (CO2) de cada um, e suas contribuições relativas para o efeito estufa causado pelo homem, podemos montar uma tabela com estimativas aproximadas:

Observações:

  • As estimativas para emissões de Metano (CH4) e Dióxido de Carbono (CO2) podem variar dependendo das fontes e dos métodos de cálculo utilizados.
  • A contribuição relativa para o efeito estufa é significativamente maior para o Dióxido de Carbono (CO2) emitido pela aviação do que para o Metano (CH4) dos ruminantes, devido à maior concentração e volume de emissões de Dióxido de Carbono (CO2) e N2O.
  • Ambos os setores (agricultura ruminante e aviação) são alvos importantes para redução de emissões como parte dos esforços globais para mitigar as mudanças climáticas.

              Essa tabela fornece uma visão geral comparativa, mas é importante considerar que os números são estimativas e podem variar ao longo do tempo com mudanças nas práticas industriais e regulamentações ambientais.

Conclusão:

              Todos casos analisados aqui, o Metano, Óxido Nitroso e o Dióxido de Carbono são gases de efeito estufa e são alguns dos fatores comprovadamente responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas observadas. Contribuem com aproximadamente 5% da influência sobre o clima. Enquanto o N2O, seguido pelo NH4 são os mais potentes em termos de aquecimento por unidade de massa, o CO2 é emitido em volumes muito maiores, sendo a principal preocupação devido à sua concentração crescente na atmosfera ao longo do tempo, não apenas na aviação. Reduzir as emissões desses gases é um desafio crucial para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Alimentar 1,3 bilhão de pessoas é fundamental. Taxar os produtores desestimula a produção dos rebanhos, podendo agravar a crise alimentar. Uma boa alternativa seria pesquisa e aplicação de novas tecnologias de combustível, como o biocombustível, hidrogênio e não somente para aeronaves mas para todo equipamento emissor de CO2, este sim o grande causador do efeito estufa. Fontes: World Bank, IPCC, Aero Time, Jet Finder, FAO, Our World in Data, Wikipedia

Autor: Paulo Henrique do Santos: Psicólogo pela PUC-SP, pós-graduado e com especialização em gestão de pessoas pela FGV-SP, desenvolveu carreira em desenvolvimento de pessoas e organizações.Pós-graduado em Neurociências e Psicologia Junguiana. Atualmente psicólogo clínico e organizacional, mentor, hipnólogo, palestrante e escritor. Coordenador do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento Humano da ABRAPS – Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável. Apaixonado por sociologia, antropologia e psicologia. Pai. Músico amador, toca classic rock e blues eventualmente. Desenvolve assuntos diversos em seu canal do Youtube voltado para artes e ciências, em colaboração com convidados muito bem entendidos. Cinéfilo, curte filmes e séries. 

Acredita que as artes têm poder transformador e curativo.

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